domingo, 22 de março de 2009

Mais, chef Diogo Rocha


HERDADE MONTE DA CAL
A BELEZA É INDISSOCIÁVEL DESTE ALTO ALENTEJO
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Uma decoração cuidada, onde os elementos árabes respeitam a História local e, sobretudo, nos fazem sentir bem. Talvez seja a assunção do conceito de oásis. Porque quem quer que deambule, numa road trip à portuguesa (e que tem, no Alentejo, um dos cenários ideais), pode parar, entrar, olhar para a carta de vinhos e sentir esse reconfortante, mágico e sempre surpreendente sabor dos melhores néctares nacionais. FOI-NOS DADO TRATAMENTO VIP, MAS ESSE É, RIGOROSAMENTE, o mesmo para todos os que aqui entrem: um copo de espumante Cabriz brut é a prova em como, aqui, se sabe receber. As portas de todas as divisões estão sempre abertas. Passamos, assim, de uma agradável varanda, com vista sobre a propriedade, a vinha, o olival (a produção de azeite está para breve) e um absoluto silêncio, para a música ambiente da loja de vinhos ou a sala de estar (que se pode transformar em sala de eventos), a adega ou mesmo a cozinha. Aqui, é possível, após uma amena (e inspiradora) conversa com o chef Diogo Rocha, ficar para almoçar aquilo que ele, ao mesmo tempo que nos concede algumas lições de grande valor gastronómico, confecciona no momento.
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NA LOJA DE VINHOS, NÃO EXISTEM APENAS OS MONTE DA CAL, mas sim todo o portefólio da Global Wines. Regiões Demarcadas, como o Dão, a Bairrada, o Douro, a Estremadura e até mesmo o Brasil (Pernambuco, a 8º do Equador, por incrível que pareça) estão aqui representadas por rótulos que o público mais conhecedor não dispensa na sua adega privada: Cabriz, Casa de Santar, Grilos, Quinta do Encontro ou Pedro & Inês são, apenas, alguns exemplos. A prova, disponível a qualquer visitante (além da óbvia oportunidade de adquirir o produto a valores mais reduzidos), pode incluir qualquer um. Uma garantia: serão servidos sempre à temperatura ideal, seja ele qual for. Um segredo: Se a prova se cingir aos vinhos do Monte da Cal, o valor não é debitado: “Se o nosso produto consegue trazer até nós os apreciadores, temos de os premiar por isso. Há várias interpretações de negócio, esta é a nossa”, afirma, convictamente, Casimiro Gomes, que tem muitas outras certezas: decoração cuidada, onde os elementos árabes respeitam a história local e, sobretudo, nos fazem sentir bem. Talvez seja a assunção do conceito de oásis. “É cada vez mais fácil fazer bons vinhos. Mas não podemos ser apenas bons nisso”, exclama. “Quando, em 1992, inaugurámos o enoturismo Quinta de Cabriz, fomos muito criticados. Era muito inovador, embora já os houvesse em França, Espanha ou Austrália. Em 1997, porém, o Esporão abriu portas num conceito idêntico. Hoje em dia, já está amplamente interiorizada a noção de que o enoturismo, mesmo sem alojamento, como é o nosso caso, dignifica o produto. Temos de ter boas vinhas, boas adegas e um produto de excelência, mas não basta”. Nem de propósito. Há uns anos, contra tudo e todos, alguém pensou: “Este ano é que é”. A Global Wines é produtora de vinhos alentejanos desde 2003. Mas só em 2007, foi inaugurada a adega. Um início que agora, afirma Casimiro Gomes, parece já longínquo: “Durante esses cinco anos, só tínhamos a propriedade. Não tínhamos, sequer, um pé de videira. Alugámos à Câmara Municipal um pavilhão onde montámos uma adega provisória, comprámos uvas e foi assim que chegámos a este ponto”. A Caixa teve, aqui, um papel crucial: “Foi o nosso parceiro financeiro desde o primeiro momento. Acreditaram no nosso projecto, desde sempre, e na nossa estratégia de longo prazo, o que é muito importante. Mais de 95 por cento deste projecto é financiado pela Caixa”, conclui, encaminhando-nos para a mesa, onde já nos espera um azeite frutado, proveniente de azeitona galega, a provar com pão regional. Segue-se uma divinal empada de enchidos tradicionais com acelga e shot de pêssego com tomate. Já estávamos prontos a aplaudir o chef Diogo Rocha quando chegou um puré de batata com trufas, espinafres salteados e lombinhos de porco preto grelhados, com redução de vinagre, que não poderia ser mais perfeito mesmo se, sobre ele, caísse um toucinho do céu com uvas trincadeiras e sourbet de canela. Os vinhos, irrepreensíveis. Por ordem de aparição: Terra Plana branco de 2007, Vinha de Saturno, o topo de gama da adega, e, para culminar, à sobremesa, um Vintage Port Quinta das Tecedeiras 2003. Há zelo, por aqui. O chef usa somente produtos tradicionais, de preferência, produzidos de forma artesanal, com um toque de sofisticação que apetece. Ainda mais, aliás, a Herdade Monte da Cal apetece!
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In "Azul"
ANO VI 2008 N.˚36

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